Estou sempre bem

Esse blog começou há muito tempo; tentei achar o primeiro texto mas estou apanhando da busca. Antes dele eu escrevi coisas que eram como farpas saindo do coração; idéias que vinham e iam, em um desespero de colocar dores para fora. Quase ninguém leu essas cartas, e não me recordo se as queimei, rasguei, ou simplesmente joguei fora.

Surgiu a idéia e registrar aqui idéias, reflexões, pensamentos, palavras. Recebi alguns elogios, alguns BOTs apareceram, prometi um livro que nunca ficou pronto (continua guardado como obra inacabada).  A origem do blog ainda vive dentro de mim, e vez ou outra eu volto, colocando idéias e sensações de forma atravessada.

O título faz alusão a um post do Instagram: "quando perguntam a um homem como ele está, ele sem responde que está bem, porque na prática ninguém se importa". É interessante analisar essa colocação na prática, e, de forma talvez metafórica, espelhar um pouco do interior.

Inteligência, beleza, capacidade, promessa, sorrisos e mais sorrisos. Será? Solidão, angústia, uma prisão de si mesmo por idéias pré concebidas que nos aprisionam sem nos darmos conta. Uma dança de altos e baixos, idas e vindas, incompreensão e um desespero para respirar quando parece faltar o ar. Mas, estou sempre bem.

Pessoas vêm, pessoas vão, e nunca ficam, só o silêncio, os passarinhos cantando, os sons naturais, do nascer do sol ao entardecer. A música do mundo passando, com a sensação e pergunta interna: o que estou fazendo aqui? Mas, estou sempre bem.

Na infância o sorriso, para esconder a lágrima, na adolescência, "um joelho ralado dói bem menos do que um coração partido". Encontro com a capacidade que não vira realidade, com os amores que nunca ficam, os relacionamentos que nunca se completam. Esporte, livros, computadores.

Computadores.... únicos amigos de longa data. Parceiros nos bits e bytes, porque talvez sejam os únicos que aguentem a inconstância do ser. Viraram celulares, inteligência artificial, coaches da vida pessoal e profissional. Mas, estou sempre bem.

Chega alguém. Será que fica? Idéias, conversas mas, os altos e baixos. Como controlá-los? Agora não precisa mais, estou aqui! Mas o eu também está! Como fazer para contar para ele que agora é seguro, que não precisa se defender, ofender, afastar? Tarde demais. Mais um que se vai. Mas, estou sempre bem.

Dizem que aquariano enxerga mais longe, e posso afirmar que sim! Mas isso trás consigo um vazio de caminhar só, e amargar no interior os farpas do passado. São poucas, são várias? A quem as contarei? A ninguém! Vou guardando, segurando, tentando não machucar as pessoas de fora como machuco as de dentro: o menino, o adolescente, o adulto. Mas, estou sempre bem.

Não me abro, mas aqui é uma válvula, que talvez escape, mas não posso ser literal, é preciso usar a beleza das palavras para não por nomes, não citar datas, lugares, situações. O interior real permanece um caos de idéias, sentimentos, frustrações e dores, mas, estou sempre bem.

A você, que motivou esse texto, e só você saberá quem é, porque eu lhe disse que escreveria, saiba que meus altos e baixos me impedem de ser quem eu poderia ser. Saiba que, por um tempo, eu mudei, eu acalmei, eu lhe ouvi, mas o meu interior está preparado para se defender de tudo e de todos, inclusive de mim mesmo, porque é mais fácil ficar só do que sentir de novo. Mas, estou sempre bem.

O peso de resolver tudo sozinho, é que a gente fica forte, mas ao mesmo tempo frio, gritando desesperadamente para que apareça alguém que nos diga "não precisa mais". Mas, como diria alguém do passado, o muro já é espesso demais. Como fazer? Talvez construir uma porta no muro, mas para isso é preciso rachar o muro, cortá-lo a propósito, e talvez entender que algum pedaço do muro poderá lhe machucar. Mas, estou sempre bem.

Estou sempre bem, e sempre estarei, e eu lhe disse "vou tentar expressar em palavras o meu interior", mas, sério, após algumas letras, não sei se consigo, não aqui, não em palavras. Talvez para você, talvez para alguém, mas não em palavras. Talvez hoje, talvez amanhã, ou talvez nunca aconteça, mas, estou sempre bem.

Tem horas que é só mais um dia, após vários que foram mais um dia. Tem horas que são mágicas, como foram as nossas, com sorrisos verdadeiros, sem máscara, sem proteção, só sorrisos. Talvez esse seja um segredo que só eu saiba: quando os sorrisos são reais, porque eventualmente são, mas nem sempre, porque, estou sempre bem.

E a vida se faz nessas horas mágicas, em que a gente chega a acreditar que o muro pode cair, desejando que caia, quando ouve "não precisa mais". Mas o interior, o soldado protetor do castelo é muito forte! E ele não sabe a diferença entre o conforto e o desconforto, porque eu tirei isso dele. Sabe porque? Porque, estou sempre bem!

Acho que eu deveria demití-lo, expulsá-lo, mas ele me mantém vivo, pelo menos por enquanto, vivendo sem viver, com sorrisos falsos, para que acreditem que é beleza, inteligência, capacidade, quando não é. "Como você é ágil para pensar e escrever". Aahhh... se você soubesse o que isso esconde; uma cabeça que não para de pensar, que dorme e acorda sem dormir, ligada o tempo inteiro. Mas, estou sempre bem.

Devaneios que começam e se perdem, e como diria o post do Instagram, se você perguntar como eu estou, sempre vou lhe responder que estou bem, mesmo que meio peito esteja rasgado, que me falte ar e que eu disfarçadamente olhe para baixo e limpe meus olhos, porque deve ter caído um cisco no meu olho porque, afinal de contas, Estou sempre bem. 

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