O melhor remédio

 Eu já tive dores, e angústias, e medo, e timidez, e até tremedeira; "tremor essencial", e dizem que é genético. Eu já tive sorrisos, e alegrias, e transbordei, às vezes em lágrimas, mas de felicidade.

É estranho e ao mesmo tempo familiar, o quanto nós somos controlados... não... talvez conduzidos, pelas emoções! Hoje, após algumas décadas de caminhada, consigo ver coisas que antes não enxergava, ou não compreendia, ou mesmo não aceitava, em mim, e nos outros. Perigoso ver as coisas nos outros, porque, em grande parte das vezes, é só a paisagem que nossas janelas oculares nos permitem ver.

Mas não são os nossos olhos que nos enganam. Já teve a curiosidade de abrir um projetor? As lentes, o espelho, apenas mostram a imagem que alguma fonte antes deles está emitindo. E de onde viria essa nossa miopia, ou clareza, sobre o que somos, o que vemos, e o que percebemos? Será que há como trocar o filme, como fazemos na projeção, ao conectar algum outro dispositivo, que deixe de passar aquele filme de suspense, ou terror, para nos mostrar uma comédia, ou um romance, ou história de superação?

Queremos, desejamos, vislumbramos, às vezes às cegas, chegar naquele alto da montanha, onde nos dizem que mora a felicidade, o sucesso, a realização pessoal; minha? Sua? Da sociedade?

Vivemos uma vida sem sentido, ou sem entender o sentido, porque temos dificuldades para entender os nossos defeitos, e as nossas potencialidades, as nossas boas e más características. Vivemos uma doença imperceptível, que vai nos tomando, dia após dia, o nosso mais precioso bem: o tempo.

A infância passa, e talvez tenhamos amigos, talvez não. A adolescência passa, e talvez tenhamos amigos, e amores, mas talvez não. Vem a fase adulta, e talvez venha o dinheiro, o sucesso, os amigos, e os amores; porque não? Mas talvez não! E seguimos à caminho dos cabelos brancos, talvez de uma bengala, de um corpo mais frágil, com menos energia. Ou.... talvez não!

Qual seria o remédio para dar mais sentido à essa vida, que começa no mistério, e nos direciona para uma possível eternidade, da qual ainda não temos certeza, se com asas ou calor?

O melhor remédio, mora onde muitas vezes procuramos não olhar. Muitas vezes por conta de um sentimento que, se bem controlado, significa combustível de sucesso, mas no excesso, pode nos paralisar, e fazer vários cavalinhos celados passarem por nós: o medo.

O medo nos impede de olhar para dentro, de nos confrontar diante do espelho mental, que nos acompanha sem barreiras, mas com muitas barreiras que nós, através do medo, nos impomos. Olhar para dentro, olhar para o eu, olhar para si mesmo e buscar o entendimento sobre os nossos sentimentos.

O melhor remédio: o autoconhecimento. E como todo bom remédio, não faz o trabalho todo sozinho. É preciso um chazinho, uma cama quentinha, um agasalho, um exercício, uma boa alimentação. É preciso ajudar o remédio, cercando o corpo enfermo de cuidados, que talvez o remédio agora permita, e que antes não seriam possíveis.

É preciso tomar o remédio do autoconhecimento, mas ajudar com a atitude, com a mudança de comportamento, com as pequenas ações diárias, com os pequenos experimentos de sabores novos no dia a dia, com a reforma íntima, essa mudança do eu, que somente o autoconhecimento é capaz de direcionar, e motivar.

E o tremor essencial, mesmo com a genética, deu lugar à mão firme. As angústias? Passaram. Virão novas? Com certeza! Mas tal qual um músculo, que se fortalece durante o tempo, após diárias pequenas execuções, aliadas à uma boa alimentação, também nós, e eu, através desse melhor remédio, nos preparamos, mais preparados, mais fortalecidos, para novos pesos, de lágrimas, doces e amargas, mas em cenários e atores novos, no filme que se projeta na nossa caminhada.

Um dia as cortinas vão ser baixadas. E talvez você vai apenas ter passado, de espectador de si mesmo, porque não tomou o remédio correto. Ou, talvez não. Talvez você consiga fisgar algum detalhe dessas letras, e tomar o seu melhor remédio, buscar conhecer a única pessoa que sempre estará com você, e nos esforços diários de buscar seus passos, vai se levantar da poltrona, caminhar até ao palco, subir as escadas, e atuar no espetáculo da sua própria vida!

Espero que quando as cortinas se fecharem, e você for para onde todos iremos, sem sabermos ainda para onde, você possa, como espectador e ator de si mesmo, bater palmas e ovacionar o espetáculo que presenciou, vivenciou e que o transformou em alguém melhor do que quando aqui chegou!

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