Respeito, não igualdade!

Dias atrás eu vinha para o trabalho, observando as coisas acontecerem enquanto o ônibus percorria seu habitual caminho. Pensei em escrever no mesmo dia, mas o dia se passou e a escrita não veio. Escrevo, pois, essas letras, na intenção de recuperar um pouco da reflexão feita no dia; no trajeto. Reforço que as opiniões são diversas e inclusive isso é o belo nas reflexões, uma vez que podemos avaliar os ditos alheios e confrontá-los aos nossos próprios, na construção e desconstrução do conhecimento, do autoconhecimento e da criação de novos entendimentos, sejam eles mútuos ou não. Se o leitor, pois, discordar das minhas linhas, sinta-se à vontade para dialogar nos comentários, pois estaremos deixando debate aos futuros leitores, para que então se decidam por si próprios.

O Brasil é um País de diversidades, formado por raízes diferentes desde as culturas ao DNA. É estranho, pelo menos para mim, entender desejos de igualdade, em um ambiente rico devido às suas diferenças. Preto, branco, amarelo, vermelho, homem, mulher, alto e baixo, cabeludo e careca, essa ou aquela religião. Eu poderia passar o dia citando diferenças, e a cada uma delas haveria material para escrever várias enciclopédias (ou páginas do wikipédia, se quiser atualizar o tema). Como, diante de tudo isso, militar pela igualdade?

Meus pais me ensinaram desde cedo a respeitar os mais velhos, a dar lugar às mulheres, a deixar que elas passem na frente, mas se for descer as escadas que o homem tome a frente, pois que se houver desequilíbrio ele poderá sustentá-la. Me ensinou a ver nas pessoas o que elas são, e não o que tem nos bolsos ou como se vestem, e me mostraram que a faxina tem o seu papel na organização social, assim como o tem os médicos. Cresci na compreensão de que tudo tem sua importância e tudo merece respeito, mesmo que por vezes eu tenha me esquecido das lições do berço, pois, usando uma desculpa qualquer "errar é humano".

Seria então o respeito sinônimo de igualdade? Por certo que não. E nessa minha certeza, me incomodo em todas as viagens de ônibus, ao ver marmanjos correndo por cima das mulheres a se sentarem disfarçados olhando para o lado, enquanto as moças e velhas continuam em pé. Por vezes entro no ônibus e vejo poltronas vazias, mas não me permito sentar, pois que pode haver uma mulher a entrar no ônibus, ou uma pessoa idosa que precisará do assento mais do que eu. Estariam eles errados na atitude? Sim e não.

Primeiro gostaria de deixar claro que para mim não estão, pois não entendo as justificativas. Seguindo a ética, o certo será sempre certo e o errado será sempre errado. Essa é a minha razão. Mas na sociedade não é a razão que prevalece, mas a moral, e essa tem parte da sua essência no que é aceito socialmente. E nesse ponto, que me incomoda e deve incomodar a muitos outros, o pedido geral não é de respeito, mas de igualdade. E se somos iguais, não existem mulheres e homens, jovens e velhos, pretos e brancos (se é que isso existe no Brasil diante de tanta mistura). Existe sim um mesmo espaço, em que a disputa é feita de forma selvagem, como se animais fôssemos, sem nos ocuparmos em preocupações "fúteis" do entendimento do que é respeito ou educação básica.

Mas porque a referência ao ônibus? Porque ele é um micro ambiente que se propaga e reflete a nossa sociedade. Uma sociedade que reclama do outro mas se esquece do seu papel. Que aponta o dedo para o Governo, que existe respeito e atenção, mas é incapaz de dar lugar àqueles que precisam mais, que é incapaz de ser gentil, de se cumprimentar no começo do dia e gerar as relações sociais que antes existiam. No ônibus existem pessoas, grande parte conectadas aos seus celulares, alienadas ao que ocorre em volta, somente esperando o tempo passar para descer no próximo ponto, ou no próximo, ou no próximo.

Essa é a minha razão: não acredito que homens e mulheres são iguais, não acredito que a cor nos defina e deva nos garantir cotas ou bolsas, não acredito que o dinheiro seja o recheio do bolo, embora garanta uma cobertura mais bonita. Acredito que devamos buscar o respeito, como era ensinado no passado. Conservadorismo? Sim, mas na sua essência boa. Porque a discriminação, os maus tratos ao sexo oposto, o desrespeito às religiões e tantas outras coisas, não são falta de igualdade, mas de respeito.

Da próxima vez que entrar em algum lugar, podendo ser um ônibus, lembre-se do meu ponto de vista. Se você for homem, lembre-se que não somos iguais às mulheres, que se for jovem você ainda vai ser velho, que se for rico, pode um dia ficar pobre, e vice-versa. Use a empatia, colocando-se no lugar do outro, e se questione como gostaria de ser tratado. Talvez isso não pague suas contas, não resolva todos os seus problemas e, com certeza, não vai resolver todos os problemas sociais hoje. Não tenho dúvida, porém, que é através da educação e do respeito, que ofereceremos aos nossos filhos e netos uma sociedade melhor e, pelo para mim, isso já vale muito à pena.

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