Parece fácil.

Confesso que tentei vários títulos antes de escrever esse, porque ao contrário do recomendado, coloco o título antes, para puxar dele as idéias. Não me veio nada à cabeça, pois hoje é um daqueles dias em que a angústia anterior preenche o espaço das idéias. Por isto mesmo, surge-me a necessidade da escrita, como uma fuga mental para aqueles problemas que não quero enxergar.

Mas porque esse título, visto que nessas horas a simplicidade nos abandona. Justamente por isto! Já se perguntou como a vida dos outros parece ser fácil? Já olhou para bem sucedidos empresários ou donas de casa, se imaginando em seus lugares, regozijando-se nas glórias já alcançadas? Perguntou-me quais foram os degraus, as dificuldades, os tombos constantes que trouxeram tamanho conforto!

Parece fácil, realmente, mas será que é? Pensar que não, confesso, gera-me um pouco de conforto, sobre uma situação que para mim passa a ser interpretada como os meus degraus, as minhas dificuldades, os meus tombos. Deixa-me a sensação de que posso ficar tranquilo, pois caminho na direção de ser, para os outros e para mim mesmo, aquela figura em momento de glória, de aproveitamento dos objetivos alcançados.

E até paro um pouco e penso o quanto somos burros! Tenho tantas coisas, tantas pessoas e situações que podem ser aproveitadas, e fico pensando em como será quando eu alcançar sei lá o que. E nisso reflito, sobre a felicidade na Terra: acho que nossa infelicidade absoluta, permeada por momentos de sorrisos temporários e por vezes vazios, mora na nossa incapacidade de perceber as glórias alcançadas.

Lembro-me de um vídeo, sobre um músico que nasceu sem os braços, que em determinado momento comenta que enxerga um milagre todas as vezes que vê alguém mexer as mãos. Sou completo, inteligente, bonito e cheio de graças, cheio de milagres. Os outros devem me olhar e dizer que parece fácil ser assim, assim como vejo os outros e penso o mesmo. Mas carrego minhas cargas, frutos de uma incompreensão das coisas, do mundo, da aplicação da felicidade.

Acho que eu poderia ficar aqui escrevendo indefinidamente, em busca de um momento de conforto que não vem assim do nada. Acho que poderia preencher linhas e linhas, utilizando-me de uma facilidade que me foi fornecida. Mas não é esse o objetivo, não é mesmo? Então termino aqui meu rascunho de idéias, alimentando reflexões sobre o que foi dito, na esperança do auto-convencimento de que a vocação, acima de tudo, é unir o amor que se tem por aquilo que se faz, à compreensão de que sempre é possível aplicar nossos dons, independente de onde estejamos.

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