Caixas

Nossa vida é feita de caixas, por mais esdrúxulo que isto possa parecer. Mas posso ser mais claro do que isto, para que fique compreensível, bem ao gosto popular. Colecionamos situações, sentimentos, lembranças e coisas materiais; claro, existem também os momentos edificantes que nos tornam melhores, mas, em geral, e na nossa maioria, adoramos juntar coisas, mesmo que elas não nos sirvam para muita coisa além de enfeitar nossas prateleiras do tempo.

E onde guardá-las? Aí vêm as caixas. Bom, para guardar tanta coisa precisamos de espaço, mas como, neste caso, o espaço é meio virtual, acabamos por acumular caixas mentais, com um monte de coisa desnecessária, arquivos estes que são carregados conosco o tempo inteiro. Pense um pouco e reflita: qual o resultado?

Como em um jogo, acertou quem pensou que excesso de bagagem gera peso extra. Sim, nos tornamos burrinhos de cargas supérfluas, que nos impossibilitam de alcançar horizontes mais altos, porque subir torna-se penoso. Mas então, qual a solução? Como nos livrarmos da nossa bagagem, sem a sensação de jogar fora o que demoramos tanto para construir?

Aqui aparece a necessidade de estudarmos a História. Não digo decorar datas ou escrever nomes em papéis para fazer provas. A História é muito mais útil do que deixa transparecer nosso parco sistema educacional. É preciso olhar atrás, no ontem, nos anos e nos séculos que se foram, para que encontremos as personagens que deixaram um rastro de sorrisos e realizações.

Entenderemos, assim, que as suas caixas não foram jogadas fora, como quem despreza o lixo, mas foram compartilhadas, tal qual se deve fazer com as grandes descobertas e realizações. Qual seria, do contrário, o significado da maturidade, da evolução? São coisas que, como o conhecimento, precisam ser distribuídas, permitidas a todos, para que todos possam subir a montanha; não apenas uns, que ainda cobram pedágio, como acontece hoje.

Pois bem, continuo aqui ouvindo alguém arrumando caixas, como se o mais importante no mundo fosse carregar as glórias conquistadas; âncoras que nos prendem ao passado, impedindo novas incursões ao futuro próspero, novo e, sobretudo, mais leve. Adoro uma frase antiga: "Só sei que nada sei", e devo dizer que, Platão, ao assumir isto, entre outras interpretações se colocou livre da carga de conhecimentos que se acumulava sobre ele. Assumiu sua ignorância, frente à quantidade de coisas a aprender.

Tenho as minhas caixas, deixo algumas delas aqui. Estou compartilhando algumas e outras ainda me pesam. Faz parte da maturação, aprender a lidar com as mágoas, os insucessos e, inclusive, com o passado glorioso que tivemos, mas que já foi. Então é isto; sigamos em frente. Porquê, afinal de contas, como diriam os bêbados: "o mundo gira".

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