A pressa

Sempre achei que as pessoas correm demais; quanto mais tempo passa e mais maduro me sinto, mais certeza eu tenho disso, sobre essa correria desnecessária. Corremos tanto para conseguir algo, que não temos tempo para pensar sobre o que faremos quando o alcançarmos e então nos tornamos adultos frustrados, cheios de riqueza material, que não nos serve para curar o vazio que vai por dentro.

Recebi uma longa apresentação por email esses dias, que mostrava, em seus vários slides, que é muito vantajoso fazer as coisas com calma, citando como exemplo um país bem desenvolvido: a Suécia. Em uma das partes desta apresentação, aparece uma situação que nos seria estranha, em que um funcionário de uma fábrica, mesmo chegando cedo e com várias vagas perto da entrada, estaciona o carro nas vagas mais afastadas. Sua justificativa? Quem chegar atrasado precisará andar menos, ao passo que quem chega cedo tem tempo para caminhar.

Fiquei refletindo sobre isto e cheguei à conclusão de que nós nos preocupamos com a saída, com o final das coisas, deixando de sermos civilizados, educados, de nos preocuparmos com quem vai chegar depois e, inclusive, deixamos de aproveitar uma boa caminhada matinal. E qual o nosso ganho? Andamos menos, o que nos deixa mais propensos a problemas de saúde, chegamos mais cedo, enchendo a pança de café e, idem, e quase sempre começamos o expediente mais cedo, pois lá já estamos.

E então, campeões da vaga mais perto da saída, teremos então menos tempo para resfriar a cabeça dos problemas do dia, rapidamente correndo para casa, atropelando a todos pelo controle remoto que nos espera na televisão, com programações já conhecidas, pois na nossa pressa não deixamos de ler o resumo dominical que nos chega pelos impressos.

Estou quase nos trinta. Imagine se eu ganhar meu primeiro milhão até os quarenta. Pela média familiar, ainda me restarão mais uns quarenta anos de vivência ou sobrevivência; eu escolherei qual. Sinceramente me parece meio vazio conseguir tudo e não restar mais nada, porque a pressa nos trás tudo, sem que tenhamos o saudável tempo de análise, para aproveitar tudo que vem a contento.

Várias pessoas vieram, várias situações se foram, e sei que não as aproveitei como poderia, porque estava preocupado demais em ser o mais breve possível, porque tudo acontece tão rápido e eu talvez não tivesse outra chance. Talvez eu não tivesse outra chance; deveria ter pensado nisto primeiro.

E não me canso de me lembrar de uma parte do filme Cidade dos Anjos, que é uma pintura completa do começo ao fim: "I would rather have had one breath of her hair, one kiss from her mouth, one touch of her hand, than eternity without it.
One." Mas, para ter a certeza de que apenas um momento basta, é preciso vivê-lo com toda a intensidade, sem a pressa do mundo cotidiano, onde tudo se transforma em simples gestos fordianos, tal qual uma linha de montagem, onde passamos a ser apenas engrenagens.

Sinta o momento, porque cada um é único. E não tenha pressa, porque, afinal de contas, nossa vida já está traçada: nascemos, crescemos e morremos. O meio é que nos cabe. Ser ou não ser? Se você for rápido demais, alguns nem se lembrarão que você chegou a ser; talvez nem mesmo você. Pense nisto!

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